quinta-feira, 19 de abril de 2012

CRÔNICA:"VIDA DE CÃO"

                                         Crônica do Livro:"CAUSOS CLÍNICOS"
                                

                                                                                                                                                                                                                                                                    Autor:Fernando Ortiz




Cão Lélo
Tenho o costume de abastecer o meu veículo sempre no mesmo posto de gasolina, sendo assim escuto muitas histórias contadas pelos frentistas. E uma delas chamou minha atenção, dizia um frentista na ocasião, que um cão vagava todos os dias pelas redondezas do posto. E contava, ele:

-Doutor, existe um cão de cor amarela, de grande porte, raça indefinida, quero dizer vira-lata!Vem sempre ao posto, e o interessante é que toda vez que avista um carro de polícia ele late insistentemente para a viatura e para os policiais!Que coincidência! Olhe ele ali, não é mesmo grande e amarelo?

Vi o cão e concordei. E ele continuou: Parece que ele tem bronca dos guardas, não é mesmo?
-Eu acho que ele guarda na memória algum tipo de maus tratos que sofreu!Retruquei.
-Pode ser Doutor!Disse e continuou a história:
-Contam que o "Lélo”, nos o chamamos assim, pois é... Ele pertencia a um sujeito que morava naquela casa de esquina, vizinha ao posto... Certa vez este cara foi preso pela polícia devido a algum delito que cometeu, e o cão presenciou o fato... Como ele resistiu à prisão, os policiais tiveram que utilizar a força para prendê-lo, o cão tentou protegê-lo, mas foi impedido pelos guardas!Desde então sem dono e sem lar, o cão vaga pelas ruas e pernoita no posto!E o interessante que este local é próximo a casa onde antes morava!De repente ele interrompe:
-Doutor, eu estou contando a história do cão para o senhor, mas olha ele latindo para a viatura policial que esta passando na rua neste momento!
-É mesmo, você tem razão!Concordei. E logo avistei o cão latindo para os policiais.
-É como eu disse Doutor, o danado do cão é invocado com uma viatura policial! Tentei explicar:
-Os animais de estimação, principalmente os cães, podem ficar "aborrecidos" como crianças quando expostos a situações de conflito!
-É mesmo, Doutor?Continuei com as minhas argumentações: 
-Os cães são capazes de ter empatia com os humanos a ponto de compartilhar as mesmas emoções de seus donos!E isso justifica o comportamento deste cão atualmente! 
-Poxa, Doutor!Exclamou ele. E eu continuei:
-Ele está demonstrando descontentamento com os guardas, por alguma experiência negativa vivida anteriormente!Essa atitude vai além de uma simples cópia do comportamento humano, pois eles são afetados física e emocionalmente quando expostos a situação de stress. Eles também possuem a habilidade de esboçar reações em situações reais de conflito.
-Então isso explica ele ter tanta bronca de policiais!Deduziu ele.
-É o que parece!Concluí.
-E como é que o Doutor sendo médico de gente entende tanto de animais!Perguntou.
-A questão não é essa, eu aprendi a conhecê-los para respeitá-los!E hoje sou um admirador destes fabulosos animais, altamente sociais e cooperativos! 
Em seguida, desci do meu carro e caminhei em direção ao cão. Ao aproximar-me afaguei sua cabeça e disse em tom amigável:
-Bom garoto!Ele abanou o rabo e lambeu-me em retribuição.
Mas, logo começou a rosnar. Estranhei e virei para trás, deparei-me com um policial, que disse:
-Doutor, o senhor está dando atenção para um cachorro de meliante?Argumentei que isso não era importante.
-O mais importante é a vida deste animal!Ele riu e completou:
-Deixe disso, Doutor!Esse cão é somente mais um vira-lata, igual a este tem muitos por aí!Disse.
Enquanto o policial falava, observei que o cão se aproximou da viatura e num ato de bravura com misto de vingança, levantou a pata traseira e sem cerimônias urinou no pneu da viatura. Esbocei um sorriso e respondi ao guarda:
-Mas é isso que faz dele um cão especial, não tem casa, nem alimento, nem tampouco um dono!Portanto, a partir de hoje vou adotá-lo!Retruquei.
-Então faça bom proveito, passar bem Doutor!Virou-se e partiu em sua viatura.
Neste instante percebi que com o meu ato, tinha em minha posse, uma vida para proteger e abrigar!E imediatamente "convidei" o "Lélo" a adentrar meu veículo e parti em companhia de meu mais novo amigo rumo a sua nova família.

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