segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CRÔNICA:"Não Sei se Você se Lembra"


Autor:Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)

ENTÃO, não sei se você se lembra, nos veio aquela vontade súbita de comer casquinha de siri. Havia anos que nós não comíamos casquinhas de siris e a vontade surgiu de uma conversa sobre os almoços de antigamente. Lembro-me bem — e não sei se você se lembra — que o primeiro a ter vontade de comer as casquinhas de siris fui eu, mas que você aderiu logo a ela, com aquele entusiasmo que lhe é peculiar, sempre que se trata de comida ou de mulher.


Então, não sei se você se lembra, começamos a rememorar os lugares onde se poderia encontrar uma boa casquinha de siri, para se comprar, cozinhar num panelão e ficar comendo aos cântaros, e acompanhando o delicioso crustáceo um choppinho para rebater de vez em quando. E só de pensar nisso a gente deixou pra lá a vontade pura e simples e passou a ter necessidade premente de comer casquinha de siri.


Então, não sei se você se lembra, telefonamos para o Raimundo, que era o campeão brasileiro de siris e, noutros tempos, dava famosos festivais do apetitoso bicho em sua casa. Ele disse que, aos domingos, perto do Maracanã, havia um botequim que servia maravilhosas casquinhas de siris, ao cair da tarde. Não sei se você se lembra que ele frisou serem aquelas as melhores casquinhas de siris do Rio.


Ah... foi uma alegria saber que era domingo e havia casquinhas de siris comíveis e, então, nos dois — não sei se você se lembra — apesar da fome que o uisquinho estava nos dando — resolvemos não almoçar para ficar com mais vontade ainda de comer casquinhas de siris. Passamos incólumes pela refeição, enquanto o resto do pessoal entrava firme num feijão que cheirava a coisa divina do céu dos glutões. O pessoal — aliás — achava que era um exagero nosso, guardar boca para uma casquinha de siri que só comeríamos à tarde, porque podíamos perfeitamente ter preparo estomacal para elas, após o almoço.


Mas — não sei se você se lembra — fomos de uma fidelidade espartana as casquinhas de siris. Saímos para o futebol com uma fome impressionante e passamos o jogo todo a pensar nas casquinhas de siris que comeríamos ao sair do Maracanã.


Então — não sei se você se lembra — saímos dali como dois monges tibetanos a caminho da redenção e chegamos no tal botequim. Então — não sei se você se lembra — que a gente chegou e o homem do botequim disse que a casquinha de siri já tinha acabado.

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