segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CRÔNICA:"Pensadores Humoristas"


Autor:Millôr Fernandes


(O filósofo tcheco Arnost Kolman disse: "A liberdade de imprensa que vocês têm é apenas no papel."Bertrand Russel respondeu: "Não é o lugar próprio?").

Desculpem, mas todo grande pensador, sobretudo pensador social, é um humorista. O riso explode, à primeira vista, quando uma grande verdade social é enunciada de maneira clara e comunicativa: "Toda propriedade é um roubo" (Proudhom). "Todo lucro é um roubo" (Shaw).
"Que é um assalto a um banco diante de um banco?" (Brecht).
Bertrand Russel também não fez por menos. Pensador nato, gozador nato, desmi(s)tificador nato:
"Se houvesse uma condenação de seis meses pela publicação de cada primeiro livro, só os verdadeiros escritores publicariam suas obras".
"Gladstone, antes de qualquer atitude, sempre consultava a sua consciência. E sua consciência sempre lhe dava a resposta mais conveniente."
"Se um homem te oferece democracia e outro te oferece comida, até que grau de fome você prefere o voto?"
"Muitos casamentos são iguais a um ato de prostituição, só que mais difíceis da gente se livrar deles."
"Fanatismo é a coisa mais perigosa que conheço: chego até a dizer que sou fanático contra o fanatismo."
"Não possuir algumas coisas de que se necessita é parte fundamental da felicidade."
"Um dos maiores triunfos da matemática moderna é ter conseguido descobrir, afinal, o que é a matemática."
"Os chamados Expoentes da Moralidade são pessoas que abandonaram os prazeres comuns e se realizam atrapalhando o prazer dos outros."
"Chama-se pornografia qualquer coisa que escandalize um magistrado senil e ignorante."
"Os filósofos pré-Kant tinham uma grande vantagem sobre os filósofos pós-Kant: não precisavam gastar anos e anos estudando Kant."
"Hegel enuncia sua filosofia de maneira tão obscura que, portanto, só pode ser profunda."
"Sempre achei que as pessoas respeitáveis são canalhas e todo dia me olho ansiosamente no espelho tentando descobrir sinais de minha canalhice."
"Ciência é tudo aquilo que você sabe. Filosofia é tudo aquilo que você não sabe."
"Os homens nascem ignorantes, não estúpidos. Para torná-los estúpidos são necessários anos e anos de educação."
"Aristóteles poderia ter evitado o tremendo erro de afirmar que os homens têm mais dentes do que as mulheres, simplesmente permitindo que madame Aristóteles abrisse a boca."
"As reservas de urânio no mundo são muito pequenas. Teme-se que possam acabar antes mesmo da raça humana."
"Como eu sou pago por palavra, só escrevo palavras bem pequenininhas."
Creio que o único livro humorístico (própriamente dito) escrito por Berthand Russel é The Good Citizen's Alphabet (O Alfabeto do Bom Cidadão), da Gaberbocchus Press, 1953. Sem falar no prefácio de Professor Mmaa's Lecture, de Stefan Themerson, no qual Russel declara:
"O mundo tem gente demais acreditando em coisas demais.  Se houvesse menos gente acreditando em menos coisas, talvez tudo fosse melhor."
O Good Citizen's, com desenhos esplêndidos de Franciszka Themerson (mulher de Sthefan?) é apenas um abecedário cívico "não facilmente entendível para quem não tenha capacidade de entendê-lo". Exemplo de algumas definições:
Asneira - O que você pensa.

Bolchevique
- Alguém de quem eu discordo.

Diabólico
- Aquilo que tem possibilidade de diminuir a renda dos ricos.

Estúpido
- Tudo que pode ser verdade.

Injusto
- Vantajoso pro outro lado.

Juventude
- O que acontece aos velhos quando em movimento.

Liberdade
- Direito de obedecer à polícia.

Objetivo
- Uma manifestação de loucura quando é compartilhada por vários lunáticos.

Pedante
- O sujeito que escreveu este livro.

Revolucionário
- Sujeito que serve à humanidade de uma maneira que ela não aprecia.

Sagrado
- Aquilo de que os arcebispos não duvidam.

Verdadeiro
- Tudo que é aceito pelos examinadores.

Virtude
- Submissão ao governo.

Xenofobia
- A certeza andorrana de que os andorranos estão com toda razão.

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