segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CRÔNICA:"Lope-Lopes"

Autor:Millôr Fernandes


  • A pedra que no papel nem serve para desenhar uma reta, dentro d'água faz círculos perfeitos.
  • Porque a mulher fica nua lhe damos um casaco de peles.
  • Sonhou que dizia: "Você é a moça dos meus sonhos".
  • O importante não é o relógio — são as horas.
  • Há gêmeos tão parecidos que o que não nos conhece nos cumprimenta.
  • Não era mulher, era um modelo vivo.
  • O menino nasceu preto apesar de todo o esforço dos médicos. 
  • O sacerdote deu uma topada e fez um silencio cheio de heresias.
  • Quando apertamos a campainha vem-nos sempre um certo receio de que a casa vá para os ares. 
  • Quando a igreja muda de padre parece que este fala de um Deus novo. 
  • A lavadeira põe o ferro em cima da roupa e o tempo passa. 
  • De cem em cem mil anos o infinito faz um ano.
  • Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixinhas de papelão e pedimos uma ligação para a infância.
  • Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.
  • E dito e feito, tudo foi dito e nada foi feito.
  • O ator encarna o papel, mas em compensação o açougueiro empapela as carnes.
  • Há certos indivíduos que, por terem que botar no correio uma carta urgente, ficam apressadíssimos.
  • Atravessou a sala com aquele ar orgulhoso dos belos transatlânticos. 
  • Quem não tem lenço se despede menos.
  • Quem mata o tempo não é um assassino.  É um suicida. 
  • A mulher do vizinho é sempre mais magra do que a nossa. 
  • Não aceitou o emprego de motorista de ônibus porque detestava coisas passageiras.
  • O morcego é o anjo do rato.
  • No espelho fazemos caretas para ver se somos bonitos.
  • Ter mais de vinte anos sempre nos pareceu uma injustiça.

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