quinta-feira, 27 de novembro de 2025

BURBURINHO NA CALADA DA NOITE

Crônica do Livro: “Causos Clínicos”

"Burburinho na Calada da Noite"

Autor: Fernando Ortiz

O plantão mal começara e muitos já eram os pacientes que se aglomeravam, esperando atendimento médico. Eu, ainda residente em neurologia, aflito, comentava com os colegas que aquela seria mais uma noite tumultuada.

Na enfermaria de clínica médica, o número de pacientes era ainda maior — sem contar a pediatria e as demais enfermarias. Misturavam-se pacientes que realmente precisavam de pronto-atendimento com outros tipicamente ambulatoriais.

Porém, naquela fatídica noite, após uma maratona de atendimentos, exausto e esperando contar com a cumplicidade complacente do corpo de enfermagem, fui tentar repousar no dormitório dos plantonistas.

Mas não demorou muito: uma implacável enfermeira chamou-me para mais um atendimento. Tratava-se, segundo ela, de uma senhora de idade avançada que, inflexível, insistia em ser atendida. Ponderava ainda a enfermeira que aquela seria a última paciente daquela inesquecível noite.

Ciente de que não se tratava de um caso de urgência, fui ao encontro da tal senhora — entre um bocejo e outro. Já eram altas horas de uma madrugada fria. Abri a porta da sala de espera e, automaticamente, perguntei:

— Quem é o próximo?

Levantou-se da cadeira uma senhora um tanto irritada pela minha demora e, de imediato, lançou-me um olhar fulminante. Sem titubear, arrisquei:

— Vamos entrar — eu disse.

Iniciei as perguntas de praxe da anamnese. Ela olhava-me com desconfiança e mal respondia às minhas perguntas. Terminado o exame físico, informei:

— A senhora tem isso, mais isso e mais isso. Vou receitar alguns medicamentos, mas, se não melhorar, terá que retornar para uma nova consulta.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não.

— Não? Por quê? — indaguei.

— Eu não vim até aqui por causa dessas baboseiras! — retrucou a senhora.

Apoiei a cabeça em uma das mãos, franzi a testa e, após um longo bocejo, insisti:

— Então o que trouxe a senhora, a esta hora da madrugada, ao pronto-socorro?

Ela retrucou de imediato:

— O doutor ainda não percebeu todo o falatório? Pois eles não me deixam dormir!

Intrigado, resolvi inquirir a paciente:

— Mas... do que a senhora está falando?

Ela, do alto de seus setenta anos, com altivez, arrematou:

— São eles, doutor! — insistiu. — São eles! Ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

— Ufa! — respirei aliviado, achando que finalmente havia compreendido o drama que afligia aquela senhora. Arrisquei meu palpite:

— São seus vizinhos, não é? São eles a causa da sua insônia? É simples: basta um telefonema para a Delegacia de Polícia mais próxima, e pronto, estará resolvido o problema!

A doce senhora, de repente, pôs-se de pé e, com o dedo em riste, fulminou:

— Bem se vê que o senhor ainda é estudante de medicina! Se fosse realmente médico, já teria entendido a extensão do meu sofrimento!

Meio sem jeito, tentei contornar a situação e expliquei que eu era médico-residente daquele hospital, e que naquela noite estava de plantão no pronto-socorro. Disse que minhas intenções eram as melhores possíveis e, tentando minorar seu sofrimento, arrematei:

— Minha senhora, trata-se de um caso clínico simples. Isso tem cura fácil. Logo que a senhora chegar em casa, ficará boa!

Arrisquei-me, mas o argumento foi em vão. De pronto, retrucou a já indócil senhora:

— Boa uma ova! Isso porque não está acontecendo com o senhor! Eu já lhe disse e repito: eles ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

Resolvi, naquele momento — e quase vencido pelo sono —, dar um basta na situação e questionei:

— Eles quem?!

Ela fitou-me demoradamente e, balançando a cabeça com leve desdém, respondeu com naturalidade:

— Ora, meus joelhos, moço! Quem mais poderiam ser, a não ser esses dois? Eles resolvem tagarelar entre si a noite inteira e não me deixam dormir! Contam um para o outro cada causo cabeludo, que fico até ruborizada com tanta sem-vergonhice!

Enfim, sorri amarelo e outra vez bocejei — desta vez, aliviado. Estava quase amanhecendo. Era o fim de mais um plantão.

Neste caso, lembrei-me de Alois Alzheimer, que descreveu, em 1907, em uma mulher na terceira idade, uma forma de demência senil de evolução lentamente progressiva...

Mas isso é outra história!


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Adendo:

O fato ocorreu em um plantão de um hospital de Ribeirão Preto (SP), quando, à época, eu era médico-residente em neurologia — nos idos de 1984.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

BURBURINHO NA CALADA DA NOITE

Crônica do Livro: “Causos Clínicos”

"Burburinho na Calada da Noite"

Autor: Fernando Ortiz

O plantão mal começara e muitos já eram os pacientes que se aglomeravam, esperando atendimento médico. Eu, ainda residente em neurologia, aflito, comentava com os colegas que aquela seria mais uma noite tumultuada.

Na enfermaria de clínica médica, o número de pacientes era ainda maior — sem contar a pediatria e as demais enfermarias. Misturavam-se pacientes que realmente precisavam de pronto-atendimento com outros tipicamente ambulatoriais.

Porém, naquela fatídica noite, após uma maratona de atendimentos, exausto e esperando contar com a cumplicidade complacente do corpo de enfermagem, fui tentar repousar no dormitório dos plantonistas.

Mas não demorou muito: uma implacável enfermeira chamou-me para mais um atendimento. Tratava-se, segundo ela, de uma senhora de idade avançada que, inflexível, insistia em ser atendida. Ponderava ainda a enfermeira que aquela seria a última paciente daquela inesquecível noite.

Ciente de que não se tratava de um caso de urgência, fui ao encontro da tal senhora — entre um bocejo e outro. Já eram altas horas de uma madrugada fria. Abri a porta da sala de espera e, automaticamente, perguntei:

— Quem é o próximo?

Levantou-se da cadeira uma senhora um tanto irritada pela minha demora e, de imediato, lançou-me um olhar fulminante. Sem titubear, arrisquei:

— Vamos entrar — eu disse.

Iniciei as perguntas de praxe da anamnese. Ela olhava-me com desconfiança e mal respondia às minhas perguntas. Terminado o exame físico, informei:

— A senhora tem isso, mais isso e mais isso. Vou receitar alguns medicamentos, mas, se não melhorar, terá que retornar para uma nova consulta.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não.

— Não? Por quê? — indaguei.

— Eu não vim até aqui por causa dessas baboseiras! — retrucou a senhora.

Apoiei a cabeça em uma das mãos, franzi a testa e, após um longo bocejo, insisti:

— Então o que trouxe a senhora, a esta hora da madrugada, ao pronto-socorro?

Ela retrucou de imediato:

— O doutor ainda não percebeu todo o falatório? Pois eles não me deixam dormir!

Intrigado, resolvi inquirir a paciente:

— Mas... do que a senhora está falando?

Ela, do alto de seus setenta anos, com altivez, arrematou:

— São eles, doutor! — insistiu. — São eles! Ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

— Ufa! — respirei aliviado, achando que finalmente havia compreendido o drama que afligia aquela senhora. Arrisquei meu palpite:

— São seus vizinhos, não é? São eles a causa da sua insônia? É simples: basta um telefonema para a Delegacia de Polícia mais próxima, e pronto, estará resolvido o problema!

A doce senhora, de repente, pôs-se de pé e, com o dedo em riste, fulminou:

— Bem se vê que o senhor ainda é estudante de medicina! Se fosse realmente médico, já teria entendido a extensão do meu sofrimento!

Meio sem jeito, tentei contornar a situação e expliquei que eu era médico-residente daquele hospital, e que naquela noite estava de plantão no pronto-socorro. Disse que minhas intenções eram as melhores possíveis e, tentando minorar seu sofrimento, arrematei:

— Minha senhora, trata-se de um caso clínico simples. Isso tem cura fácil. Logo que a senhora chegar em casa, ficará boa!

Arrisquei-me, mas o argumento foi em vão. De pronto, retrucou a já indócil senhora:

— Boa uma ova! Isso porque não está acontecendo com o senhor! Eu já lhe disse e repito: eles ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

Resolvi, naquele momento — e quase vencido pelo sono —, dar um basta na situação e questionei:

— Eles quem?!

Ela fitou-me demoradamente e, balançando a cabeça com leve desdém, respondeu com naturalidade:

— Ora, meus joelhos, moço! Quem mais poderiam ser, a não ser esses dois? Eles resolvem tagarelar entre si a noite inteira e não me deixam dormir! Contam um para o outro cada causo cabeludo, que fico até ruborizada com tanta sem-vergonhice!

Enfim, sorri amarelo e outra vez bocejei — desta vez, aliviado. Estava quase amanhecendo. Era o fim de mais um plantão.

Neste caso, lembrei-me de Alois Alzheimer, que descreveu, em 1907, em uma mulher na terceira idade, uma forma de demência senil de evolução lentamente progressiva...

Mas isso é outra história!


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Adendo:

O fato ocorreu em um plantão de um hospital de Ribeirão Preto (SP), quando, à época, eu era médico-residente em neurologia — nos idos de 1984.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

BURBURINHO NA CALADA DA NOITE

Crônica do Livro: “Causos Clínicos”

"Burburinho na Calada da Noite"

Autor: Fernando Ortiz

O plantão mal começara e muitos já eram os pacientes que se aglomeravam, esperando atendimento médico. Eu, ainda residente em neurologia, aflito, comentava com os colegas que aquela seria mais uma noite tumultuada.

Na enfermaria de clínica médica, o número de pacientes era ainda maior — sem contar a pediatria e as demais enfermarias. Misturavam-se pacientes que realmente precisavam de pronto-atendimento com outros tipicamente ambulatoriais.

Porém, naquela fatídica noite, após uma maratona de atendimentos, exausto e esperando contar com a cumplicidade complacente do corpo de enfermagem, fui tentar repousar no dormitório dos plantonistas.

Mas não demorou muito: uma implacável enfermeira chamou-me para mais um atendimento. Tratava-se, segundo ela, de uma senhora de idade avançada que, inflexível, insistia em ser atendida. Ponderava ainda a enfermeira que aquela seria a última paciente daquela inesquecível noite.

Ciente de que não se tratava de um caso de urgência, fui ao encontro da tal senhora — entre um bocejo e outro. Já eram altas horas de uma madrugada fria. Abri a porta da sala de espera e, automaticamente, perguntei:

— Quem é o próximo?

Levantou-se da cadeira uma senhora um tanto irritada pela minha demora e, de imediato, lançou-me um olhar fulminante. Sem titubear, arrisquei:

— Vamos entrar — eu disse.

Iniciei as perguntas de praxe da anamnese. Ela olhava-me com desconfiança e mal respondia às minhas perguntas. Terminado o exame físico, informei:

— A senhora tem isso, mais isso e mais isso. Vou receitar alguns medicamentos, mas, se não melhorar, terá que retornar para uma nova consulta.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não.

— Não? Por quê? — indaguei.

— Eu não vim até aqui por causa dessas baboseiras! — retrucou a senhora.

Apoiei a cabeça em uma das mãos, franzi a testa e, após um longo bocejo, insisti:

— Então o que trouxe a senhora, a esta hora da madrugada, ao pronto-socorro?

Ela retrucou de imediato:

— O doutor ainda não percebeu todo o falatório? Pois eles não me deixam dormir!

Intrigado, resolvi inquirir a paciente:

— Mas... do que a senhora está falando?

Ela, do alto de seus setenta anos, com altivez, arrematou:

— São eles, doutor! — insistiu. — São eles! Ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

— Ufa! — respirei aliviado, achando que finalmente havia compreendido o drama que afligia aquela senhora. Arrisquei meu palpite:

— São seus vizinhos, não é? São eles a causa da sua insônia? É simples: basta um telefonema para a Delegacia de Polícia mais próxima, e pronto, estará resolvido o problema!

A doce senhora, de repente, pôs-se de pé e, com o dedo em riste, fulminou:

— Bem se vê que o senhor ainda é estudante de medicina! Se fosse realmente médico, já teria entendido a extensão do meu sofrimento!

Meio sem jeito, tentei contornar a situação e expliquei que eu era médico-residente daquele hospital, e que naquela noite estava de plantão no pronto-socorro. Disse que minhas intenções eram as melhores possíveis e, tentando minorar seu sofrimento, arrematei:

— Minha senhora, trata-se de um caso clínico simples. Isso tem cura fácil. Logo que a senhora chegar em casa, ficará boa!

Arrisquei-me, mas o argumento foi em vão. De pronto, retrucou a já indócil senhora:

— Boa uma ova! Isso porque não está acontecendo com o senhor! Eu já lhe disse e repito: eles ficam conversando a noite inteira e não me deixam dormir!

Resolvi, naquele momento — e quase vencido pelo sono —, dar um basta na situação e questionei:

— Eles quem?!

Ela fitou-me demoradamente e, balançando a cabeça com leve desdém, respondeu com naturalidade:

— Ora, meus joelhos, moço! Quem mais poderiam ser, a não ser esses dois? Eles resolvem tagarelar entre si a noite inteira e não me deixam dormir! Contam um para o outro cada causo cabeludo, que fico até ruborizada com tanta sem-vergonhice!

Enfim, sorri amarelo e outra vez bocejei — desta vez, aliviado. Estava quase amanhecendo. Era o fim de mais um plantão.

Neste caso, lembrei-me de Alois Alzheimer, que descreveu, em 1907, em uma mulher na terceira idade, uma forma de demência senil de evolução lentamente progressiva...

Mas isso é outra história!


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Adendo:

O fato ocorreu em um plantão de um hospital de Ribeirão Preto (SP), quando, à época, eu era médico-residente em neurologia — nos idos de 1984.

terça-feira, 17 de junho de 2025

DEUS: UM NEGÓCIO DA CHINA


Dr.Fernando Ortiz Wrote
junho 17, 2021

Algumas pessoas perceberam que explorar o alfabeto divino, rende dividendo. E o produto mais rentável das religiões continua sendo as igrejas e templos. É nestes lugares que os fiéis decidem contribuir para a causa e passa a ser um devoto fervoroso.
Quanto mais vistosos os templos, mais devotos começam a participar e a contribuir. Historicamente, a religião sempre foi uma forma de fazer dinheiro. E hoje em dia, muitas igrejas não pregam mais a vida eterna e o seguimento a Jesus, mas a salvação da empresa, o desemprego, as drogas e o casamento. Pois, são preocupações do aqui e agora!
E agindo desta forma conseguem atrair milhares de pessoas e aumentar as contribuições!
Nas últimas quatro décadas, os evangélicos tem tido mais sucesso em angariar fiéis. São atualmente 46 milhões de evangélicos no Brasil. A estimativa é que seja até 2021, a metade da população brasileira. Dois aspectos colaboram para a multiplicação das igrejas protestantes: Há mais de 100 denominações evangélicas espalhadas pelo país e é muito fácil abrir uma igreja. Qualquer pessoa bem articulada e sabendo se expressar, pode se tornar um pastor. Para inaugurar uma igreja é muito fácil. O primeiro passo é registrar a denominação em um cartório, que exige assembléia de fundação e estatuto social. Depois, é preciso inscrever a nova igreja na receita federal e tirar CNPJ. Mas, a principal vantagem de abrir uma igreja é livrar-se de impostos! Com a documentação, pode-se abrir uma conta bancária, receber donativos e realizar aplicações financeiras livres de imposto de renda e IOF.

Também não se paga IPTU, ITR, IPVA e ISS. Tudo absolutamente dentro da lei. Não se exigem requisitos teológicos e nem mesmo número mínimo de fiéis. Não é à toa, que há registro de grande crescimento de igrejas evangélicas no Brasil, com a prática da barganha do nome de Deus e comercializando a fé consegue-se extorquir grandes somas de valores dos devotos. A “religião virou um negócio da China”, cômodo para o fiel e lucrativo para o pastor! Entre o crescimento de igrejas, o mais vertiginoso é observado entre as correntes pentecostais e neopentecostais, que apostam em curas e milagres!
Muitos dos pastores destas igrejas moram nos fundos do imóvel e vivem dos donativos dos fiéis. Não há uma tabela que fixe o rendimento de pastores. Sabe-se que um pastor pode receber de um salário mínimo (R$1045,00) à R$20.000,00, dependendo do quanto traga de novos fiéis. Pastores consagrados ganham bem mais do que isso. Igrejas com maior visibilidade, idem.
Pagar o dízimo é um ato que está presente na maior parte das igrejas. Trata-se de um ato voluntário, um investimento na igreja, dizem os pastores e acrescentam que é agradecimento do fiel a Deus, em fôrma de contribuição. Trata-se de uma parte dos rendimentos pessoais que o devoto entrega espontaneamente para a igreja, na intenção de ajudar a manter a obra. Há igrejas que exigem 10% do salário do fiel, outras deixam o valor a critério do devoto. Mas, há também os exageros de pastores em exigir muito dinheiro, inclusive há denúncias de enriquecimento ilícito.
A expansão das igrejas evangélicas está ligada aos preceitos da Teologia da Prosperidade, uma das principais correntes filosóficas das instituições, especialmente as neopentecostais.
Milhares de pessoas correm aos templos para buscar uma saída aos seus problemas financeiros. Esta teologia prega que é preciso ser abençoado por Deus para ter uma vida livre de infortúnios e recheada de prosperidade. Mas, a bênção divina nunca vem de graça. O fiel tem que mostrar o quanto de sacrifício está disposto a fazer para alcançar a graça divina, normalmente medida pelo tamanho da doação. Estas igrejas colocam seus interesses pessoais acima de qualquer coisa e acabam gerando lucro, mas ao custo de macular a linguagem de Deus! Fica o alerta!

Copyright © - 2011-2025 - Dr.Fernando Ortiz Wrote -Todos os direitos reservados

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

TESTEMUNHO DE UM APRENDIZ



Minha mãe chamava-se Maria Odette Ortiz, era funcionária pública aposentada, e mãe de cinco filhos (Márcio, Isete, Murilo, Fernando e Eliane). 
Faleceu aos 86 anos de idade em 2006, mas deixou um legado de sabedoria e virtudes. Sempre, como filho, percebia o valor de suas atitudes, mesmo ela achando que eu não estava a observando, eu estava sempre a espreita aprendendo com seus belos exemplos de vida. 

Como dizem, os filhos aprendem mais com os exemplos dos pais do que com palavras ditas e repetidas à exaustão! 

Não fugi a regra, sempre estava espreitando minha mãe e vi quando fez meu bolo preferido no meu aniversário e aprendi que as pequenas coisas podem ser as especiais na vida. 

Espreitando a vi cozinhar para uma amiga doente e aprendi o que significa ajudar um ao outro no amor fraterno. 

Espreitando eu a ouvi orando para mim e me dando um beijo de boa noite e eu me senti seguro e amado. 

Sempre espreitando eu vi, como ela lidava com o seu emprego, mesmo quando não se sentia bem, e aprendi ser correto e leal com as responsabilidades da vida. 

E espreitando eu a vi doando seu tempo e dinheiro para as pessoas necessitadas e aprendi o real significado da generosidade. 

E espreitando eu vi lágrimas em seus olhos nos momentos de dificuldades e doenças, e entendi que chorar ameniza os sofrimentos. 

Espreitando eu vi que ela se importava muito comigo e desejava que tivesse um futuro brilhante e digno. Segui seus propósitos e formei-me médico com inspiração altruística e humanitária. 

Espreitando eu a vi conversando com Deus e aprendi a confiar nele também. 

E sempre espreitando fui seu aprendiz.
Um belo dia acordei e quis dizer: “Obrigado minha mãe, por todas as coisas que aprendi te observando...mas ela não se encontrava mais entre nós.” 

Do filho que sempre te amou, 

Fernando Ortiz 

PS: Em virtude de seu altruísmo, minha mãe hoje é lembrada através de uma placa de rua colocada em sua homenagem, na cidade de Taubaté (SP).

quarta-feira, 16 de julho de 2014

BLOG: "EMPILHANDO PALAVRAS" UM ESPAÇO PARA CRÔNICAS!

ORIGEM DA CRÔNICA:Vem de Cronos, deus da mitologia grega cujo nome significa “o Tempo”.
 
 
 
Nos seus primórdios a crônica era uma narração de fatos históricos em ordem cronológica. Começou a desvincular-se da História com o avanço do jornal como veículo de informação e entretenimento. No seu livro Crônico – Uma aventura diária, o jornalista gaúcho Luís Peazê registra que foi o semanário inglês The Tattler (O Fofoqueiro ou O Tagarela), fundado em 1709 pelos escritores ingleses Joseph Addison e Richard Steele, o introdutor da crônica na imprensa, por publicar somente textos curtos, em artigos literários e políticos com reflexões morais.Cem anos após o lançamento do The Tattler, o Journal des Débats, de Paris, iniciaria a publicação da crônica diária em sua primeira página, abaixo de uma linha que a destacava das notícias.Então crônica e jornalismo passaram a ser indissociáveis, através dos tempos. 
 
Bem-vindo(a) Internauta!Este Blog (Empilhando Palavras) pretende ser um espaço para crônicas e disseminação de literatura.No Brasil,a crônica foi implantada definitivamente na imprensa carioca a partir do ano de 1850, já voltada para a descrição maliciosa da vida mundana e os fatos políticos do Rio de Janeiro. A partir da segunda metade do século 20, chegaria a se tornar o mais jornalístico dos gêneros literários e o mais literário dos gêneros jornalísticos, passando a parecer uma invenção brasileira. Mas naveguemos ao seu remoto passado.Essa volta no tempo nos levará às esquinas do Rio de Janeiro entre as últimas décadas do século 19 e as primeiras do século 20. Era ali que se postavam sumidades como José de Alencar, Machado de Assis, e Olavo Bilac , para observar a alma encantadora de suas ruas. Depois desses, surgiria outra geração de cronistas que fariam o gênero crescer e aparecer com uma força extraordinária. Foram eles: Rubem Braga, Fernando Sabino, Rachel de Queirós, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector, Antônio Maria, Carlos Heitor Cony – que por sua vez viriam a ter os seus seguidores. Alguns nomes: Luís Fernando Veríssimo, Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna.E estes são apenas alguns nomes que fizeram e fazem a crônica parecer
coisa nossa,com marca de origem e carimbo de autenticidade nacional.Acesse os arquivos deste Blog e...

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Boa leitura,

DESABAFO DE UM CINQUENTÃO!

Fernando Ortiz e seus remédios da alma
Nasci há mais de cinquenta anos atrás.E nasci paulista e míope.Virei médico por profissão e cronista nas horas vagas.Ávido por livros,agnóstico por opção,tornei-me pelas minhas convicções políticas um militante de esquerda.Em 1959, os militares tentam derrubar JK. Em 1961, Jânio toma um porre e renuncia. Em 1962, a crise dos mísseis em Cuba quase descamba numa guerra nuclear. Em 1964, o golpe militar, que impõe ao país duas décadas de ditadura. Em 1968 vem o AI 5, o ato institucional que acaba de vez com os direitos individuais. Em 1969 tivemos o auge da guerrilha urbana.Em 1972 tem início a guerrilha do Araguaia, que acontece longe de nossos olhos. Mas acontece. Em 1973 vem a crise do petróleo, que muda de vez a história da humanidade. Em 1975,ano que encontrava-me engajado politicamente na luta contra a ditadura,ocorre a morte de Vladimir Herzog ,torturado nos porões da repressão. E o regime militar começa a balançar. Em 1977 o general Geisel fecha o Congresso.Quem é que se lembra disso? Em 1978 acontecem as greves do ABC, com os metalúrgicos se mobilizando. Surge o líder Lula. Em 1981 a bomba do Riocentro gera um escândalo que prenuncia o fim do regime militar. Em 1984 o povo vai às ruas pelas Diretas Já, que não são aprovadas pelo Congresso. Em 1985, finalmente a volta da democracia. Tancredo Neves é eleito presidente e morre... Entre 1980 e 1994 vivemos uma superinflação crônica, uma moratória externa, um confisco monetário, duas recessões, dois colapsos cambiais, cinco planos econômicos, seis moedas e uma quase moeda. O Brasil teve onze ministros da economia e quatorze presidentes do Banco Central! E tivemos também o plano Cruzado. As eleições diretas.
O Plano Collor e aquela tungada em nosso dinheiro. Tivemos o impeachment, o plano Real. O apagão. A eleição de Lula duas vezes...A eleição da Dilma ( A primeira mulher eleita Presidente da República).E mais essa: O câncer na laringe de Lula...! Que felizmente ele tirou de letra!Num piscar de olhos já estamos em 2014...E a reeleição de Dilma com certeza! Enfim,muito prazer,vivo ao sabor da paixão e esta é a história de minha vida, que completa cinquenta e poucos anos.Entretanto,com o avançar da idade,só não gosto de conviver com novas dores.Mas,minha vontade de viver é maior que tudo, este sou eu, e eu sou assim...