sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

TESTEMUNHO DE UM APRENDIZ



Minha mãe chamava-se Maria Odette Ortiz, era funcionária pública aposentada, e mãe de cinco filhos (Márcio, Isete, Murilo, Fernando e Eliane). 
Faleceu aos 86 anos de idade em 2006, mas deixou um legado de sabedoria e virtudes. Sempre, como filho, percebia o valor de suas atitudes, mesmo ela achando que eu não estava a observando, eu estava sempre a espreita aprendendo com seus belos exemplos de vida. 

Como dizem, os filhos aprendem mais com os exemplos dos pais do que com palavras ditas e repetidas à exaustão! 

Não fugi a regra, sempre estava espreitando minha mãe e vi quando fez meu bolo preferido no meu aniversário e aprendi que as pequenas coisas podem ser as especiais na vida. 

Espreitando a vi cozinhar para uma amiga doente e aprendi o que significa ajudar um ao outro no amor fraterno. 

Espreitando eu a ouvi orando para mim e me dando um beijo de boa noite e eu me senti seguro e amado. 

Sempre espreitando eu vi, como ela lidava com o seu emprego, mesmo quando não se sentia bem, e aprendi ser correto e leal com as responsabilidades da vida. 

E espreitando eu a vi doando seu tempo e dinheiro para as pessoas necessitadas e aprendi o real significado da generosidade. 

E espreitando eu vi lágrimas em seus olhos nos momentos de dificuldades e doenças, e entendi que chorar ameniza os sofrimentos. 

Espreitando eu vi que ela se importava muito comigo e desejava que tivesse um futuro brilhante e digno. Segui seus propósitos e formei-me médico com inspiração altruística e humanitária. 

Espreitando eu a vi conversando com Deus e aprendi a confiar nele também. 

E sempre espreitando fui seu aprendiz.
Um belo dia acordei e quis dizer: “Obrigado minha mãe, por todas as coisas que aprendi te observando...mas ela não se encontrava mais entre nós.” 

Do filho que sempre te amou, 

Fernando Ortiz 

PS: Em virtude de seu altruísmo, minha mãe hoje é lembrada através de uma placa de rua colocada em sua homenagem, na cidade de Taubaté (SP).

quarta-feira, 16 de julho de 2014

BLOG: "EMPILHANDO PALAVRAS" UM ESPAÇO PARA CRÔNICAS!

ORIGEM DA CRÔNICA:Vem de Cronos, deus da mitologia grega cujo nome significa “o Tempo”.
 
 
 
Nos seus primórdios a crônica era uma narração de fatos históricos em ordem cronológica. Começou a desvincular-se da História com o avanço do jornal como veículo de informação e entretenimento. No seu livro Crônico – Uma aventura diária, o jornalista gaúcho Luís Peazê registra que foi o semanário inglês The Tattler (O Fofoqueiro ou O Tagarela), fundado em 1709 pelos escritores ingleses Joseph Addison e Richard Steele, o introdutor da crônica na imprensa, por publicar somente textos curtos, em artigos literários e políticos com reflexões morais.Cem anos após o lançamento do The Tattler, o Journal des Débats, de Paris, iniciaria a publicação da crônica diária em sua primeira página, abaixo de uma linha que a destacava das notícias.Então crônica e jornalismo passaram a ser indissociáveis, através dos tempos. 
 
Bem-vindo(a) Internauta!Este Blog (Empilhando Palavras) pretende ser um espaço para crônicas e disseminação de literatura.No Brasil,a crônica foi implantada definitivamente na imprensa carioca a partir do ano de 1850, já voltada para a descrição maliciosa da vida mundana e os fatos políticos do Rio de Janeiro. A partir da segunda metade do século 20, chegaria a se tornar o mais jornalístico dos gêneros literários e o mais literário dos gêneros jornalísticos, passando a parecer uma invenção brasileira. Mas naveguemos ao seu remoto passado.Essa volta no tempo nos levará às esquinas do Rio de Janeiro entre as últimas décadas do século 19 e as primeiras do século 20. Era ali que se postavam sumidades como José de Alencar, Machado de Assis, e Olavo Bilac , para observar a alma encantadora de suas ruas. Depois desses, surgiria outra geração de cronistas que fariam o gênero crescer e aparecer com uma força extraordinária. Foram eles: Rubem Braga, Fernando Sabino, Rachel de Queirós, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector, Antônio Maria, Carlos Heitor Cony – que por sua vez viriam a ter os seus seguidores. Alguns nomes: Luís Fernando Veríssimo, Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna.E estes são apenas alguns nomes que fizeram e fazem a crônica parecer
coisa nossa,com marca de origem e carimbo de autenticidade nacional.Acesse os arquivos deste Blog e...

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Boa leitura,

DESABAFO DE UM CINQUENTÃO!

Fernando Ortiz e seus remédios da alma
Nasci há mais de cinquenta anos atrás.E nasci paulista e míope.Virei médico por profissão e cronista nas horas vagas.Ávido por livros,agnóstico por opção,tornei-me pelas minhas convicções políticas um militante de esquerda.Em 1959, os militares tentam derrubar JK. Em 1961, Jânio toma um porre e renuncia. Em 1962, a crise dos mísseis em Cuba quase descamba numa guerra nuclear. Em 1964, o golpe militar, que impõe ao país duas décadas de ditadura. Em 1968 vem o AI 5, o ato institucional que acaba de vez com os direitos individuais. Em 1969 tivemos o auge da guerrilha urbana.Em 1972 tem início a guerrilha do Araguaia, que acontece longe de nossos olhos. Mas acontece. Em 1973 vem a crise do petróleo, que muda de vez a história da humanidade. Em 1975,ano que encontrava-me engajado politicamente na luta contra a ditadura,ocorre a morte de Vladimir Herzog ,torturado nos porões da repressão. E o regime militar começa a balançar. Em 1977 o general Geisel fecha o Congresso.Quem é que se lembra disso? Em 1978 acontecem as greves do ABC, com os metalúrgicos se mobilizando. Surge o líder Lula. Em 1981 a bomba do Riocentro gera um escândalo que prenuncia o fim do regime militar. Em 1984 o povo vai às ruas pelas Diretas Já, que não são aprovadas pelo Congresso. Em 1985, finalmente a volta da democracia. Tancredo Neves é eleito presidente e morre... Entre 1980 e 1994 vivemos uma superinflação crônica, uma moratória externa, um confisco monetário, duas recessões, dois colapsos cambiais, cinco planos econômicos, seis moedas e uma quase moeda. O Brasil teve onze ministros da economia e quatorze presidentes do Banco Central! E tivemos também o plano Cruzado. As eleições diretas.
O Plano Collor e aquela tungada em nosso dinheiro. Tivemos o impeachment, o plano Real. O apagão. A eleição de Lula duas vezes...A eleição da Dilma ( A primeira mulher eleita Presidente da República).E mais essa: O câncer na laringe de Lula...! Que felizmente ele tirou de letra!Num piscar de olhos já estamos em 2014...E a reeleição de Dilma com certeza! Enfim,muito prazer,vivo ao sabor da paixão e esta é a história de minha vida, que completa cinquenta e poucos anos.Entretanto,com o avançar da idade,só não gosto de conviver com novas dores.Mas,minha vontade de viver é maior que tudo, este sou eu, e eu sou assim...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Crônica:"Pra que servem as sogras?"



             
                                             Crônica do Livro:"CAUSOS CLÍNICOS”


                                                                                    Autor: Fernando Ortiz
         

       
Às vezes eu me pergunto, e não tenho uma resposta convincente, ainda mais se tratando da minha sogra rusguenta e maçante. É nestas horas que eu me lembro da minha esposa dizendo:
-Meu bem, domingo eu vou à casa da minha mãe!Pronto mais um domingo que eu ficarei sozinho!E não é somente um domingo, são os quatro domingos no mês!Portanto são quatro domingos que eu inevitavelmente ficarei sozinho!Sem contar os inúmeros telefonemas diários, a minha sogra liga pontualmente todos os dias no mesmo horário, mas não é somente uma vez, são seis vezes ao dia!Para perguntar o quê?O que será que tanto elas conversam?Seja o que for, haja assunto!!!
Quanta amolação!E não é implicância minha, pois em nenhum destes telefonemas ela se dignificou em perguntar se eu estava bem ou se eu continuava existindo!
Mais um dado melancólico, elas almoçam juntas todos os dias!Quanto a mim tenho que me virar com a marmita de um restaurante!
No dia das mães, também é mesma coisa, lá vai minha esposa com o filho comemorar ao lado de sua mãe!E eu mais uma vez sou jogado as traças!
Sendo minha esposa, filha de pais divorciados!Isto é mais uma complicação na questão de datas comemorativas. No dia dos pais eu não comemoro, ela vai comemorar a data festiva ao lado do pai!E eu sou relegado para segundo plano!
Com relação ao natal: Dia 24 de Dezembro ela vai comemorar na casa do pai!Dia 25 de Dezembro? É claro que ela vai comemorar na casa da mãe!E eu passo o natal ao lado do meu cãozinho (passava, ele faleceu). Portanto, nesta data onde todos estão felizes festejando o natal, eu fico sozinho em casa ouvindo ao longe os fogos de artifício!
Resta-me ir dormir mais cedo com o coração apertado!(Somente neste relato eu contabilizei três datas festivas que eu passo sozinho).
Segundo uma pesquisa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Somente 15% dos genros têm atritos com as mães de suas mulheres (eu me incluo aí). Já 60% das noras de acordo com esta mesma pesquisa têm problemas com as sogras.
No meu caso específico, sinto que minha sogra é manipuladora, e ela engendrou um sentimento de posse de sua filha, e esse sentimento possessivo a torna uma sogra terrível!!
"Nem toda mulher desenvolve uma relação saudável com os filhos. Por serem responsáveis por suas vidas frágeis totalmente dependentes delas, muitas se consideram suas ‘donas’ desde o nascimento. Esse sentimento pode se manifestar de forma tão intensa que atrapalha a vida de quem elas mais amam: os próprios filhos", diz a pesquisa.
E a sogra sempre reage com críticas, velada ou explícita ao genro, e, não raro, utiliza-se de chantagem emocional, contra a qual, na maioria das vezes, a filha com pena da mãe idosa, não consegue responder com firmeza e acaba cedendo a esta chantagem.
Livro de Richard Dawkins
Além da disputa pelo poder, há outras ideias que também tentam explicar o que acontece por trás da má vontade da sogra de aceitar uma pessoa estranha no ninho que ela construiu. A teoria do gene egoísta, do evolucionista Richard Dawkins, explica que nós, de uma maneira instintiva, defendemos com mais intensidade as pessoas com quem compartilhamos um maior número de genes. Por isso, temos uma relação mais intensa com um filho ou uma filha. Imagine, então, como é que eu sou visto pela minha sogra, não tendo nada a ver com a sua árvore genealógica.
E a história tende a piorar com a chegada do neto. Como a sogra não consegue se separar da filha nem vê-la como uma pessoa adulta capaz de tomar suas próprias decisões, o mais provável é que a mãe possessiva (e agora avó) queira tomar para si os cuidados com o neto, até porque não acredita que ninguém possa criar a criança tão bem quanto ela.
Finalmente, como eu acredito que a organização familiar irá se modificar, as relações entre eu e minha sogra tenderão a se transformar em um convívio mais ameno, talvez eventuais rusgas persistam, pois é pertinente a toda relação interpessoal. Mas eu ainda me pergunto:
-Pra que servem as sogras? Melhor seria se não existissem? Mas, logo outra pergunta me vem à mente. Se minha sogra não existisse, não existiria minha esposa! E se a sogra de meu pai não existisse? Não existiria minha mãe e, portanto eu não existiria!Triste conclusão... Sogra é um mal necessário!

Crônica: “Hoje tem Marmelada?”



                               

                                           Crônica do Livro:"CAUSOS CLÍNICOS”


                                                                Autor: Fernando Ortiz


Palhaço Espoleta
Hoje tirei o dia de folga, cancelei minhas consultas médicas!Quero relaxar e aproveitar um dia de lazer!E nada melhor que assistir a um espetáculo circense!
E foi o que eu fiz, fui ao Grancirco Barollo!Adquiri meu ingresso e sentei numa cadeira próxima ao picadeiro, meio espremido no meio da multidão que lotava o circo. Minha intenção era assistir aos números dos malabaristas, contorcionistas, ilusionistas, trapezistas e divertir-me com o hilariante palhaço Espoleta com suas divertidas esquetes!!
E começa o espetáculo:
-Respeitável público, o Grancirco Barollo tem a honra de apresentar sua atração internacional, diretamente da Holanda, a vaquinha Mimosa e seu fiel adestrador, diretamente do bairro do Bexiga de São Paulo, o espalhafatoso palhaço Espoleta!!
O público aplaude bastante. Feitas as apresentações, o palhaço adentra o picadeiro com sua partner fantasiada de vaca e cutuca a platéia:
-Vocês conhecem a vaquinha Mimosa?
E a criançada em coro responde:
-NÃÃÃÃÃOOOO!!E ele continuou:
-Pois saibam que esta vaquinha é muito sabichona!Ela consegue adivinhar as coisas!Querem ver?Desafiou e continuou a explicação:
-Vou vedar seus olhos com este pano e ela saberá adivinhar todas as coisas que eu lhe perguntar!Por exemplo:
-Vaquinha amarela, vaquinha Mimosa, vaquinha do coração, que horas são?Respondeu a vaca:
-MUUUU!Mugi a vaquinha. Retruca o palhaço:
-Não entendi... Vou repetir... Que horas são?De novo a vaca:
-MUUUU!Então, disse ele:
-MUUMMA HORA!Agora entendi vaquinha amarela, Vaquinha Mimosa!
E continuou:
-Estou certo criançada?Ao que todos respondem:
-Estááá sim senhor!!!E ele continuou a brincadeira, aproximou-se de um senhor calvo e perguntou:
-Vaquinha Mimosa, estou colocando a mão na cabeça de um senhor careca, ele é cabeludo ou careca?E a vaquinha prontamente respondeu:
-Careca!!
-Acertou vaquinha Mimosa!E o palhaço não se fez de rogado e pediu palmas para sua vaquinha!Entre risos, todos aplaudiram a vaquinha sabichona!!E continuou a brincadeira:
-Vaquinha Mimosa, preste bastante atenção!Eu estou agora segurando um relógio no pulso direito de uma senhora! O que ela tem no pulso?E a vaquinha sem titubear, respondeu:
-Um relógio!O palhaço mais uma vez pediu:
-Senhores e senhoras aplaudam esta magnífica vaquinha!E todos rindo aplaudiram!!!E continuou perguntando:
-Agora responda vaquinha amarela, vaquinha Mimosa: Eu estou segurando uma bolsa de mulher, o que tem dentro?A vaquinha hesitou, mas respondeu:
-Escova de cabelo, batom, espelho, carteira, alicate de unhas, esmalte, chaves, lenço, anticoncepcional oral, absorventes e outras cinquenta bugigangas!!!O palhaço Espoleta concordou e disse:
-Muito Bem!Muito Bem!Vaquinha Mimosa!Não vou nem conferir!Você esta certa!Palmas para a vaquinha Mimosa!!!
E o público aplaudiu dando inúmeras gargalhadas. E a apresentação continuou:
-Vaquinha Mimosa estou vendo uma mulher colocando a mão na perna de um homem. O que ela tem na mão?A vaquinha demorou em responder e o palhaço insistiu:
- Vaquinha Mimosa, responda: O que ela tem na mão?Por fim a vaquinha disse:
-Não posso responder!E o palhaço concordou:
-Tem razão vaquinha Mimosa!E o público aplaudia e ria muito. Um garoto sentado na minha frente contorcia-se de tanto rir. O palhaço então se aproximou do garoto e perguntou:
-Vaquinha Mimosa, estou perto de um menino. Ele esta mascando um chiclete. O que ele tem na boca?A vaquinha imediatamente respondeu:
-Língua!!O palhaço ficou inconsolável e tornou a perguntar:
-Não vaquinha Mimosa! O que o menino tem na boca?Use seus dois neurônios: O Tico e o Téco!E responda!A vaquinha pensou, pensou e respondeu:
-Chiclete!!Disse a vaquinha.
-Muito bem!Muito bem!Palmas para a vaquinha Mimosa!Pediu o Espoleta.
E todos riram e aplaudiram (inclusive eu).
-Agora vaquinha Mimosa prepare-se para uma pergunta difícil!Disse o palhaço Espoleta.
-A Dona Marivalda é casada com o Seu Jorge!Ela quer saber qual é o nome do marido dela?A vaquinha pensou e respondeu:
-Ricardo!
-Que confusão é essa vaquinha Mimosa?Eu perguntei o nome do marido e não do Ricardão!Concentre-se e responda!A vaquinha então disse:
-Ah!Então é Jorge!!E a platéia ria muito.
-E agora a pergunta mais difícil da noite: Quais são o nome e o sexo do espectador sentado na última fileira do setor A?Indagou o Espoleta.
A vaquinha Mimosa pensou, pensou e respondeu:
-Sexo duvidoso!!!
Gargalhadas sonoras ecoaram sob a lona do circo. E o palhaço Espoleta, insistiu:
- Concentre-se vaquinha Mimosa. Qual é o nome do espectador?Uma vez que quanto ao sexo há dúvidas!!Disse o palhaço.
Novamente uma estrondosa risada ecoou no circo. E a vaquinha Mimosa perguntou:
-Não seria Joaquim, Antonio ou João?!?O palhaço Espoleta desconcertado tentou contornar a situação:
-Não, não e não!Concentre-se vaquinha Mimosa, eu estou de posse do documento desta pessoa, onde se poder ler seu nome. Qual é o nome desta pessoa?Pergunta Espoleta.
-Não seria então: Miguel, Francisco ou José? Pergunta aflita a vaquinha.
-Esta errada vaquinha Mimosa!Tente se concentrar. Qual é o nome que consta no documento desta pessoa?Pergunta em tom ríspido o palhaço.
A platéia mostra-se apreensiva. Parece a todos que o número circense não vai dar certo. Então, retruca o impaciente palhaço:
-Qual é a porra do nome deste indivíduo?Sua vaca!Berra o palhaço descontrolado.
-Carlos, Vitor, Guilherme, Marcos, Ronaldo, Neymar... Não sei!Responde a vaquinha Mimosa toda trêmula.
O palhaço furioso investe contra a Mimosa, e segurando na cabeça da vaquinha começa a balançar de um lado para o outro. E pergunta em voz alta:
Vaquinha Mimosa
-QUAL É O NOME DO CARA?RESPONDE SUA VACA BURRA!!!
Parece que número perdeu sua graça, pois não se ouve nenhum riso e o clima é tenso. E prosseguiu o palhaço:
-QUAL É NOME DO SUJEITO?E num gesto brusco arranca a cabeça da vaquinha. E com este gesto retira por completo a fantasia de vaca de sua partner. Que fica completamente visível ao público numa posição pouco confortável, pois se encontrava de quatro com destaque para sua proeminente e descomunal nádegas (era possível perceber que debaixo de sua vestimenta havia um enxerto de espuma tornando sua bunda ainda mais volumosa e abundante). E eis que o público reagiu ao inesperado (e ensaiado) número com sonoras gargalhadas. E o palhaço continuou dizendo o seu texto:
-Vaquinha amarela, vaquinha Mimosa!O que aconteceu com a sua cabeça?Dizia isso e acariciava as nádegas da partner. A “vaquinha” na mesma posição e segurando o riso, respondia com um mugido:
-MUUUU! E palhaço em tom de lástima retrucava abraçado as nádegas:
-Como eu pude fazer isso?A vaquinha, ou seja, a partner em posição de quatro, respondeu:
-Se continuar apertando não me responsabiliza pelo que ira acontecer!!E público foi ao delírio. Todos riram. E o palhaço continuou apertando. De repente ouve-se um estranho barulho seguido de uma fumaça de odor fétido:
-PRRUUUUMMM!!Não havia dúvidas, a partner havia soltado um potente flato bem na cara do pobre palhaço!Que cambaleava de um lado para o outro como se estivesse sido nocauteado. E a platéia ria aos cântaros. E o Espoleta não resistiu e foi à lona. E a platéia aplaudia, enquanto a partner se retirava rapidamente para a coxia. O palhaço ainda teve tempo de propor a parlenga da Vaca Amarela e disse:
-Vaca amarela evacuou na panela, quem primeiro recontar esta história, come toda a merda dela!!E em seguida retirou-se do picadeiro sob os aplausos e risos do respeitável público. Uma senhora idosa sentada ao meu lado, com semblante sério, estupefata esbravejou em voz baixa: Que palhaçada!!!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CRÔNICA: "FRAGMENTOS DE UMA DESPEDIDA"

                                                        Crônica do Livro:"CAUSOS" CLÍNICOS                               




                                                                                                        Autor:Fernando Ortiz


Nick
Não faz tanto tempo, foram exatos 11 anos e 10 meses que conheci meu amiguinho da espécie canina e da raça schnauzer, que o chamamos de Nick. Lembro-me que eu e minha esposa tomamos esta decisão, para trazer companhia ao nosso filho, na ocasião uma criança de seis anos de idade. E posteriormente descobrimos que ele se transformaria em grande companheiro para todos, especialmente para mim.
Recordo-me como se fosse ontem as suas travessuras,quando ainda tinha seis meses de idade,adorava morder e destruir os chinelos de todos.E não adiantava a "bronca" que levava.Descuidávamos um pouco,e lá ia ele morder e destruir um novo chinelo.Ele dormia em sua caminha,mas no nosso quarto.E todas noites ele vinha até ao meu lado da cama e com a patinha me acordava.Não havia dúvidas ele estava com vontade de fazer "xixi".E bastava eu abrir a porta do quarto,e ele saia correndo até o jornal estendido na área de serviço para fazer o seu "xixi"(sempre foi muito higiênico,aprendeu rápido a fazer suas necessidades nos lugares determinados).Depois com olhar de gratidão retornava para sua caminha e eu para a minha.Isso foram várias vezes em vida.Não adiantava eu deixar a porta do quarto aberta ,pois assim mesmo ele me chamava para o seu "xixi" noturno.Porque eu e não minha esposa?Isso ele nunca me explicou.
Tinha uma personalidade amigável e inteligência notável.Sempre afetuoso e simpático,sentia-se quase um humano.
Quando passei muitas vezes à noite em claro, escrevendo meu livro. Ele por livre e espontânea vontade permanecia ao meu lado, e não adiantava a minha esposa chamá-lo, ele resistia e permanecia ao meu lado.
Na verdade, o meu amiguinho subia numa cadeira e debruçava-se sobre a minha mesa de trabalho e ali permanecia por horas afio,observando-me enquanto eu digitava o livro. E isso levou seis longos meses. E ele sempre ao meu lado madrugada adentro.
Quando saíamos para trabalhar ou mesmo para fazer compras no supermercado, bastávamos a nossa volta para sermos recebidos com acalorada recepção por parte dele, eram incontáveis pulos de alegria e manifestações de contentamento com a nossa chegada. Todos os dias era a mesma situação, bastávamos sair para que na volta fossemos recepcionados com festa pelo nosso "lobinho”. Ele fazia-me sentir o verdadeiro lobo alfa da alcatéia, ou seja, da família.
Ele cativava por captar o "espírito" da casa e entrar no nosso ritmo de vida, deixando-se influenciar pelo nosso temperamento.Gostava de participar do nosso cotidiano.
Algumas vezes que me sentia triste e aborrecido com determinada situação, lá estava ele para consolar-me. Permanecia ao meu lado, fitando-me e com o olhar parecia que compreendia meu sofrimento.Adorava companhia, detestava ficar só e, por isso, procurava ficar no mesmo ambiente da casa onde havia uma pessoa,de preferência minha esposa.Na ausência dela, permanecia ao lado da porta da rua, esperando pacientemente a sua volta. Atitude esta que gerou um comentário dela:
-Fernando, você reparou que o Nick, parece que divide seus sentimentos. Se você se ausenta não basta minha companhia, ele se posta diante da porta esperando por você. E quando sou eu é a mesma coisa. Ele só esta feliz com a presença de nós dois!Tive que concordar. O nosso cãozinho tinha de fato uma fidelidade inquestionável.
Se estivéssemos em casa assistindo TV, ele permanecia ao nosso lado deitado no tapete da sala, como se estivesse assistindo a TV também. Era um companheiro inseparável.
Quando viajávamos ele escolhia a janela do carro para colocar a cabecinha para fora e ficar tomando o vento na sua carinha peluda!
Tinha um gênio irascível, se não gostava de alguma coisa rosnava e não adiantava insistir que talvez ele mordesse!Nunca tentamos passar deste limite para não testar seus afiados caninos!Não gostava de ser escovado, não gostava de ser agarrado, para tomar banho era uma briga, pois ele relutava em ir. E para dar uma lambidinha em sinal de gratidão como outros cães fazem era raridade. Mas não importa gostávamos dele do jeito que ele era!E ele se relacionava muito bem com a gente. Sempre alegre e brincalhão.Mesmo com a idade mais avançada,foi sempre um grande companheiro.
E foram exatos 11 anos e 10 meses de convivência. Mesmo portador de diabetes e cego, ele se adaptava as adversidades, lutava com tenacidade contra a doença.Tinha uma grande vontade de viver, e nos brindava todos os dias com exemplos de perseverança e superação. Até que um dia, já debilitado com a doença que o consumiu, ele era também portador de um mastocitoma, não resistiu, e foi acometido por um fulminante ataque cardíaco. Deu um sussurrado grunhido e foi-se. Não deu tempo para despedidas.Em silêncio e sem alardes, nosso grande amigo partiu. Na verdade era um anjo disfarçado de amigo. Era puro e inocente. E fez nossa vida colorida e recheada de beleza.
Quero ter eternamente sua amizade. Até aqui viajamos juntos. Mas você nos deixou, seguindo outro caminho. Embora assim quisesse o destino. Leve nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro. Adeus meu amigo Nick!
(20/07/2000-12/05/2012).